domingo, 26 de maio de 2013

Entrevista com o infectologista Guenael Freire: saiba mais sobre a dengue

Desde o início de 2013, a dengue tem tomado conta dos noticiários no Brasil. Segundo dados do Ministério da Saúde, os casos da doença no país triplicaram no início de 2013 se comparado com o mesmo período de 2012. Foram 204.650 casos confirmados, contra 70.486 do ano passado.

Para tirar as dúvidas da população sobre a dengue, o infectologista do Hermes Pardini, Dr. Guenael Freire, concedeu entrevista para o programa "Rádio Vivo", da rádio Itatiaia de Belo Horizonte, que é comandado pelo jornalista José Lino. Veja alguns trechos da conversa e fique por dentro da dengue.

José Lino: Muitas pessoas confundem a dengue com outras doenças. Como é isso, doutor?

Dr. Guenael Freire: A Dengue se parece com outras doenças, então às vezes as pessoas se confundem com a gripe, por exemplo. Mas o que chama a atenção é a febre, dores no corpo todo, seja ela muscular ou nas articulações. As pessoas relatam que parece que tomaram uma surra, por exemplo. Além disso, dor de cabeça é um relato frequente, dor no fundo dos olhos e algumas pessoas têm manchas avermelhadas pelo corpo e uma minoria tem manifestações hemorrágicas com um sangramento leve ao escovar os dentes, por exemplo.

JL: E a dengue pode levar a morte, não é?

GF: Numa minoria de casos, a dengue pode sim levar à morte. A forma mais grave da doença, que é conhecida como febre hemorrágica, é uma desidratação forte a ponto de o corpo não conseguir manter a circulação normal e pode levar à morte, e é o que tentamos evitar.

JL: A pessoa só pode pegar a dengue pela picada do mosquito? Tem como transmitir entre pessoas?

GF: A dengue não é transmitida entre pessoas. A doença só é adquirida pela picada do mosquito.

JL: Há sempre uma campanha permanente contra a dengue, e é muito importante que cada pessoa cuide do seu cantinho. Qualquer vasilha que acumule água pode virar um depósito do bichinho.

GF: As pesquisas mais recentes têm demonstrado que os reservatórios do mosquito estão principalmente dentro das casas das pessoas. Pratinhos de plantas, que já é um foco conhecido há muito tempo, ainda persiste como o principal local reprodutor. E também temos vasilhas, comedores de animais, pneus, calhas entupidas, ou seja, qualquer lixo que esteja no quintal e que não tenha utilidade é um reservatório em potencial para o inseto.

JL: Equivocadamente as pessoas pensam que sempre o mosquito prospera mais na água suja. Mas não é bem assim...

GF: O aedes aegypti gosta de água limpa. Eventualmente ele pode se multiplicar em água poluída, mas o preferencial é água limpa. E daí vem o fato de a maior frequência da dengue ser no verão, pois a gente observa que os reservatórios são renovados e tem também a temperatura elevada, que favorece a multiplicação do inseto.

JL: Claro que as pessoas não vão reconhecer o mosquito transmissor só de passar voando, mas parece que ele tem semelhança com o pernilongo, é isso mesmo?

GF: O aedes aegypti parece um pouco com o pernilongo, mas a diferença é que ele possui umas manchinhas brancas e ele costuma circular mais de dia, e o pernilongo circula mais de noite.

JL: Depois que a pessoa é picada pelo mosquito, quanto tempo depois aparecem os sintomas?

GF: Os sintomas da dengue aparecem aproximadamente duas semanas depois da picada do aedes aegypti.

JL: Como é o tratamento da dengue?

GF: O tratamento da dengue, basicamente, visa amenizar os sintomas e hidratar bastante o paciente por causa deste risco da febre hemorrágica. Então são analgésicos e antitérmicos, lembrando que não se pode utilizar antiinflamatórios porque aumenta o risco de sangramento. Medicamentos a base do AS também não poder ser utilizados pelo mesmo motivo.

JL: Na maior parte das doenças, quanto mais cedo o diagnóstico, mais possibilidades de cura. É o caso da dengue?

GF: Exatamente. O período crítico da doença é entre o terceiro e o sexto dia. É neste momento que a gente observa com maior frequência as complicações. É importante que o médico faça o diagnóstico precocemente e já oriente o paciente a hidratar adequadamente.

JL: Vacina não existe, não é?

GF: Ainda não há vacina, mas existem pesquisas em andamento e temos a possibilidade de nos próximos anos termos ela disponível. Ela não terá muito eficácia, mas já será uma arma a mais contra a doença. De todo modo, mesmo com a vacina, nós vamos ter que continuar com essas medidas de prevenção.

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